dezembro 17, 2010

"Não evoluo, viajo"...



Foi essa frase do Fernando Pessoa (lida na estação do Metro - Parque) que me levou a inúmeros pensamentos aleatórios e fundamentais da minha fase atual.

No meu último aniversário, passei boas horas refletindo sobre a minha vida até aquele momento: quem estava comigo, quem não estava mais, no que eu tinha errado, no que eu tinha acertado, quais eram os meus objetivos... E por aí vai. Não obstante meus principais objetivos permanecessem os mesmos, notei que eu havia mudado. O foco era outro, as prioridades também; só pessoas especiais estavam ao meu lado, torcendo por mim e me apoiando sempre. Eu podia dizer que, mesmo com os problemas inevitáveis, eu era uma pessoa feliz.
Eis que, então, recebi a notícia do prêmio da bolsa de estudos que me trouxe a Portugal. Saltei de felicidade durante muito tempo e iniciei os preparativos para a tão sonhada viagem... Correria, pressão, desesperos recorrentes e uma pitada de angústia em alguns momentos; nervos à flor da pele. Felicidade intensa, mesmo assim.
Percebi que algo tinha saído dos eixos quando faltava mais ou menos uma semana para o meu embarque, o que julguei ter sido causado pelo stress pré-viagem/mudança-de-vida que se aproximava. Lógico que não dei muita atenção a isso, afinal havia muito assunto mais importante para eu me preocupar.
Cheguei. Família, amor, abraços, sorrisos, recordações, choros e muita emoção desde o primeiro encontro. Tudo estava tão, mas tão feliz que se melhorasse estragava.
Até que estragou, de fato: sofri a maior decepção de todas as anteriores (e o meu histórico de decepções é longo... Pensa na mistura de coração mole com credulidade em excesso e ingenuidade) e senti que o mundo tinha acabado para mim, como se eu tivesse perdido o chão, o ar. Como se eu não tivesse a capacidade de distinguir o bom do mau ou quem é e quem não é digno da minha confiança. Chorei de dor, senti-me traída e, vejam só!,  injustiçada.
Mas, diferente das outras tragédias da minha vida, dessa vez não caí. Sofri o luto do choque, da perda, da mudança, mas não remoí fatos depois disso (muito embora minha opinião seja uma só - a qual, claro, está sempre sujeita a mudanças). Esbravejei e deixei passar... Não me permiti a depressões, nada seria capaz de mudar a minha vida, a minha experiência, os meus anseios. Mesmo antes de tudo isso, eu já havia decidido que nada mudaria o meu rumo. Nada nem ninguém.
Concluí, pois, que guardar rancores é perda de tempo e que superar a dor através do amor, desviando maus pensamentos e valorizando quem o que existe de bom na vida é o que há de melhor para nos fortalecer e nos ajudar a ver o lado bom de tudo. Sorri! Cantei! Me permiti! A vida é curta demais para se perder tempo com o que não traz felicidade...
É claro que não demorei a me ver completamente restabelecida. Nova, inteira, pronta para viver mais plena do que nunca os lindos momentos que me esperavam... E eles vieram! Vêm!
Esse crescimento se deu em parte pela minha força de vontade (obrigado, amigas!), mas em outra parte (bem mais considerável) pela mudança de ares que eu estou tendo o prazer de experimentar. Se não mudasse de ambiente, se não conhecesse outras pessoas e não frequentasse outros lugares, tudo teria sido bem mais difícil!
Anyway, sinto que a distância está servindo sobretudo para que eu me autoconheça profundamente, avalie os meus erros com mais crítica e analise meus acertos como exemplos. 
Sinto que cresci anos nestes três meses em terras lusitanas...! Nunca parei de viajar, seguindo destinos, seguindo o meu destino e seguindo os meus pensamentos. E, a cada nova experiência, a cada olhar ou sorriso trocado com alguém, sinto o meu coração mais completo. Cada conversa se reflete num turbilhão de aprendizados; cada história, numa nova vida; cada realidade, numa nova realização.

É como se um outro eu tivesse definitivamente tomado conta daquele que ficou em Pelotas e que nunca mais vai voltar...

7 comentários:

  1. È isso ai amiga... concerteza tudo isso servirá de aprendizado e amadurecimento pra ti... Beijaoo Saudades

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  2. escreves tão bem karina, estou impressionado. adorei :D

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  3. sinto o mesmo. cada dia deixando uma carapaça pra trás. esgueirando-me pra fora de mim mesmo.

    :)

    beijos!

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  4. Ai, ai... Será que preciso comentar? :D Amei o texto!! Um beijão!!

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  5. Ótima postagem Kari! Eu vi que apesar da dor nunca deixaste que ela te dominasse a ponto de não aproveitar todas essas coisas maravilhosas que estavam aí na tua frente. Tens o munndo aos teus pés agora.
    Adorei a foto. Não penso em nenhuma maneira mais romântica de viajar do que de trem na europa!
    Beijão amiga!

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  6. Andressa: pois é, sempre serve né? Ainda bem que o ser humano está em constante evolução! :)

    Riccs: meu amor, que bom que gostaste! Sabes que a tua opinião é sempre muito importante pra mim! Ly!

    Gonçalo: "esgueirando-me pra fora de mim mesmo" foi o toque que faltava para dizer exatamente o que eu tava sentindo quando escrevi isso. Bom saber que sentes bem bem como eu! Beijos, querido!

    Barbie: Amei que amaste! :D Beijo lindona!

    Lúcia: ô, minha amiga! Poucas pessoas sabem com tanta perfeição tudo o que aconteceu, tudo o que eu senti e a forma como eu superei, como tu sabes! Adorei a parte do "tens o mundo aos teus pés agora". Amém!
    Simmm, ainda pretendo fazer outras tantas viagens como esta, todas devidamente fotografadas. E que ainda possamos fazer umas juntas!!! Beijo, lindona!

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  7. cada dia que passa te admiro mais e mais...Que orgulho filha amada! Tua estrela briha cada vez mais espalhando luz intensa por onde andas...Que Deus te ilumine sempre! Beijos com muito amor . Mãe.

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