dezembro 09, 2010

PORTUGAL!



Desde sempre, ouvi e li inúmeras histórias sobre a minha família: de onde eu vim, quem era quem e o que fizeram para que tudo tivesse chegado onde chegou, uma parte minúscula no Brasil e todos os outros em Portugal.
Aprendi que a nossa terra é Vinhais, nordeste serrano de Trás-os-Montes, e que a nossa família é muito conhecida lá pela firmeza de caráter de seus componentes, que sofreram muito para sempre manterem a força de seus princípios e ideais. Aprendi que o meu trisavó foi um combatente da única e pequena revolução que teve em Portugal quando da instauração da República, em 05 de Outubro de 1910 (o grande Luciano Gomes, republicano até a raiz dos cabelos, que combateu a resistência monarca em Vinhais apenas com uma machadinha). Aprendi que o nosso apelido (ou a nossa alcunha, como dizem em Portugal) é Champlantã porque quando o meu trisavô cultivava as vinhas, media a intensidade do vento com latas, que faziam "champlantã, champlantã, champlantã..." e as pessoas que observavam isso passaram a associar o rufar das latas com o temperamento reto e severo do próprio Luciano, aquele que não se calava diante de qualquer injustiça, aquele que não se calava na defesa dos seus princípios e na proteção da família... O Champlantã por excelência!
Conheci muitas das histórias do meu bisavô António Luciano, o Tonanhas, que foi seminarista, alfaiate, intelectual e carcereiro em Vinhais, que criou oito filhos da forma mais tenaz e disciplinar possível... Conheci histórias dos irmãos do Tonanhas, sobretudo as do tio Vergílio, que foi mártir do Salazar, sofreu as maiores torturas e humilhações por ser opositor ao Estado Novo Fascista, e depois do 25 de Abril se tornou um dos heróis nacionais... Conheci histórias dos irmãos da minha tia Bela, meus tios em segundo grau que sempre foram como diretos, dada a intimidade com que sempre nos tratamos - mesmo com um oceano de distância entre nós.
Conheci as histórias dos meus primos, dos lugares que viajaram, das escolhas que fizeram... Sempre senti a união dessa família maravilhosa e sempre lamentei muito não estar presente nos momentos-chave como Natal, Ano Novo, aniversários, 25 de Abril... Numa tentativa de compensar essa falta, esse vazio causado pela distância que nos separava, desenhei e escrevi muitas cartas para todos! Tirei muitas fotos dedicadas a eles, pensei muito neles em cada momento importante da minha vida, vibrei intensamente com cada telefonema, cada anúncio do carteiro e, mais recentemente, com cada e-mail oriundo da minha Terrinha amada.
Aprendi sobre a História de Portugal desde os seus tempos mais primórdios até, sobretudo, a Revolução dos Cravos...
E tudo, tudo isso sempre se deu graças ao coração gigantesco da minha Bebé... Minha madrinha, segunda mãe, vó, amiga e tudo de mais bonito que existe nas influências da minha vida e da minha personalidade. Ela, maravilhosa, sempre fez questão de me mostrar tudo, de me contar cada pormenor das suas recordações. Primeiro por amor às nossas memórias familiares, as quais ela defendia com unhas e dentes, por acreditar que não podiam se perder com o tempo. Além disso, porque contar e relembrar era a forma de amenizar as saudades tão fortes que ela sentia de tudo e todos...


Como eu e a minha irmã fomos criadas pelos meus pais e pelos meus avós (vô, vó e Bebé), crescemos apaixonadas por Portugal e pela nossa família: eu sentia como se eu mesma tivesse sofrido a dor da separação e da imigração, tamanha força que esse amor tem dentro de mim; sentia saudades de familiares que nunca tinha visto, sentia que conhecia Portugal inteiro sem nunca ter de fato pisado na Terrinha.
Sonhei tanto com o cheiro, com as pessoas, com a vivência de cada hábito no lugar original... Sonhei tanto com o encontro com o tio Hélder, a Tizinha, o Fernando, a tia Alda, o tio Leonel, a Betiz, os gêmeos e o Tomé, o tio Abílio e a tia Luísa, a Inês e a Ana Rita... A Isabel, o Jorge e a Nandinha... E todos os outros. Sonhei tanto em voltar a abraçar e apertar muito a tia Lourdes e a tia Maria, o tio Joaquim e o tio Victor... Sonhei tanto em respirar o ar de Vinhais, em percorrer as estradas transmontanas, em conhecer cada lugarzinho onde elas cresceram e que foi palco de tantas histórias da minha gente, do meu sangue...


Parecia que quanto mais eu sonhava, mais distante se mostrava essa viagem que eu considero como sendo um sonho da minha alma... Cada notícia de alguém que ia para Portugal só por ir, só para conhecer alguns dos pontos turísticos (muita gente que inclusive ficava falando mal depois) me deixava um bocado desapontada. "Quando que vai chegar a minha vez?", eu pensava frequentemente.


Quem acredita sempre alcança!

Se eu não tivesse essa máxima como lema da minha vida, teria desistido desse sonho, tão arduamente conquistado! Passei noites e noites em claro, estudando e pesquisando... Publiquei trabalhos e os apresentei muitas vezes com poucas forças físicas, fiz ginástica com os meus horários e condições de vida (trabalhando e estudando em Rio Grande, sem lugar para morar lá e vivendo às custas da boa vontade das minhas maravilhosas amigas-irmãs, que me estenderam as duas mãos, os braços, os ombros, os abraços e os corações SEMPRE que eu precisei), corri atrás de professores, de material de pesquisa... Fiz tudo o que estava (e o que não estava também) ao meu alcance, não esmoreci nunca...
E o resultado tá aí: fui aprovada na seleção que a FURG fez em conjunto com o programa Santander Universidades para estudar um semestre em Portugal! Tentei em 2008 e não consegui, fiquei como suplente e ninguém (óbvio) desistiu da bolsa, tentei em 2009 e a minha inscrição sequer foi homologada por ausência de um dos documentos (não aceitaram meu CV Lattes sem as cópias de TODOS os certificados)... Até que em 2010, com o mesmo projeto que eu sempre acreditei, fui lá, com muita fé, e participei de novo.
O resultado não poderia ser diferente: passei em primeiro lugar! E tive a liberdade de escolher em qual universidade portuguesa eu queria estudar - Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Coimbra ou Universidade do Minho.
Impossível descrever o que eu senti quando soube de tudo isso... Que, finalmente, eu estava vivendo a maravilha da recompensa por tantos e tantos esforços, por tanta espera! Que o cara lá de cima tinha olhado pra mim e decidido que era a minha hora. E que essa minha hora tinha vindo da forma mais perfeita possível!
Por que Lisboa? Para viver com a minha tia Lourdes amada... Para viver no clima do qual eu sinto muuita falta, desde que os meus velhos se foram. Para viver em Lisboa. Por ser a UNL uma universidade nova, dinâmica, cheia de boas perspectivas e ter uma Faculdade de Direito muito bem conceituada nos padrões europeus e mundiais.
Quando cheguei aqui, inspirei o ar mais mágico da minha vida! Quando encontrei os meus queridos, chorei as lágrimas mais puras que eu já tinha chorado. E o meu coração bateu no ritmo mais emocionante que eu já havia sentido.

Sabe quando a gente se sente plena, realizada, intensamente amada e feliz?

Assim mesmo.

5 comentários:

  1. É isso aí!!!! É bom compartilhar esse tipo de experiência que para alguns parece algo tããão distante.Concordo plenamente: QUEM ACREDITA SEMPRE ALCANÇA!!!!

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  2. Que lindo Karina! Não sabia que Portugual era tão forte em ti! Que coisa maravilhosa estar vivendo um sonho assim. Aproveita querida, tu merece.
    Beijão

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  3. Coisa boa ler um texto escrito por ti com tanta paixão, entusiasmo, vontade e significado - características tão marcantes na Karina que eu conheço e sinto tanta falta. Sei o quanto essa viagem foi, é e sempre será importante pra ti, e sinto-me muito feliz em perceber que estás indo atrás de todos os teus sonhos. Depois de tanta luta, a recompensa tem um sabor muito mais especial. Depois, colhe-se os frutos! Estou te aguardando pra trocarmos muitas confidências e aproveitarmos um carnaval regado de alegrias, experiências e mais sonhos!! ;) Um beijão, minha querida!

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  4. ''fiz ginástica com os meus horários e condições de vida (trabalhando e estudando em Rio Grande, sem lugar para morar lá e vivendo às custas da boa vontade das minhas maravilhosas amigas-irmãs, que me estenderam as duas mãos, os braços, os ombros, os abraços e os corações SEMPRE que eu precisei...''

    e SEMPRE que tu precisares ;)
    te amo :D
    dani!!!

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  5. Ingrid: somos a prova de quem acredita sempre alcança, né? Pensamento positivo pode não ser tudo, mas é fundamental na força interior que a gente precisa pra seguir em frente e lutar pelos nossos sonhos. Assim é que conseguimos tudo na vida! Beijo amada, saudade!

    Lúcia: Obrigada, meu amor! Que bom que já sabes um pouquinho então... Porque o que eu disse aqui é só um resumo do que eu sinto. Nós sabemos que é difícil expressar tudo o que se sente em meia dúzia de palavras, né? Mas temos a vida toda pra conversarmos bastante sobre... Beijão!

    Bárbara: Fiquei emocionada com o teu comentário, minha querida! Tão lindo saber que sentiste tudo o que eu quis transmitir... Correr atrás dos sonhos com garra e persistência faz com que eles sejam muito mais especialmente saboreados, fato. Isso me deixa mais feliz ainda por tudo o que eu tenho conquistado, e motivada para o que está por vir!
    Hoje falta menos do que ontem para nos encontrarmos, conversarmos muuuito e nos divertirmos muito mais! Beijo, amiga!

    Dani: Sem comentários pra ti. TE AMO, irmã! Pra sempre!

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